Todo o charme dos meninos ingleses...
Texto inconclusivo. Perdoem as linhas mal traçadas.
Londres é a capital da srta Winehouse, dos horários pontuais, do charmoso sotaque britânico. Londres é um convite simples, é sorvete no frio. E é muuuito amor. Nothing Hill é um dos bairros mais charmosos da cidade (ok, eu não conheço todos, mas suponho). Cheio de casas em estilo Vitoriano, onde aos sábados, acontecem feiras de antiguidades e artesanato. Notting Hill é, também, bairro-tema daquela comédia romântica meia-boca com a chata da Julia Roberts e o bobo-mas-gostoso Hugh Grant.
Mas... Onde estão os rapazes da bucólica Notting Hill?
Mas... Onde estão os rapazes da bucólica Notting Hill?
Vc, garotinha que namorava aos 15 e casou aos 20 com o namoradinho de adolescência, ACHA que encontrou o rapaz precioso de Notting Hill. Tolinha. Estes rapazes nascem do fundo do oceano. Arrancam-nos do nosso mundo, tiram-nos do chão e depois se vão. Como os punks, que vivem rápido para morrer logo. Vc, donzela, provavelmente, nunca o conheceu. Uma pena. Mas ok se vc é honestamente feliz. É que não serve pra mim.
Aos 15, eu achava que com 25 estaria casadinha e com um rebento enorme, ralando o buxo no fogão. Sonho dourado, era mais fácil. Mas exatamente com esta idade, eu decidi terminar meu noivado e tentar uma vida em São Paulo. E um dia ter uma casa, um carro, um filho, o emprego do ano e um cachorro chamado Totó. E só. Vc me pergunta: "E o rapaz de Notting Hill?". Eu digo que ele não está nos meus planos. Não desta forma que vc pensa: Véu, igreja e grinalda. Eu estarei sempre aqui para ele. Para vê-lo nascer e morrer nas minhas mãos. Na minha língua. E em outras cositas más. Se minha falecida avó soubesse que meu plano de vida era só este, teria morrido de novo.
Verdade, estou há muito tempo solteira. Mas as mulheres mais interessantes que eu conheço também estão, amigo. Acho graça de quem não sabe ficar sozinho. De quem engata um relacionamento no outro, absorvendo quase que completamente a personalidade do parceiro. E não conhece a si mesmo. Não sabe se é feito de pão ou vinho. E é importante saber, juro pra vc.
Claro, já tive meus momentos corta-pulsos, chorando no meio-fio depois de assistir a alguma comediazinha romântica babaca, desejando infinitamente um amor pós-morte. Afinal, aqui bate um coração, honey. Mas veja bem, meu bem: eu tiro da vida tudo que ela tem pra me dar. E é muito. Mesmo que dure um dia, uma noite, é muito. É uma vida em 1 segundo. Eu sou muito a favor do "eterno enquanto dure", de Vinicius. Ou do "It’s to burn out to fade away", do Neil Young. "É melhor explodir, que apagar-se aos poucos".
Eu já tive príncipes encantados, mas hoje, na mais filosófica teorias de Zeca Pagodinho, ‘deixo a vida me levar’. E brinco com os estereótipos. Meu rapaz de Notting Hill já foi um rock star, que empunhava uma guitarra e tocava como Rick Blackmore em seus tempos de glória. Fumava um cigarro e saía cambaleante, entre umas garotas peitudas, de maquiagem pesada. Meu rapaz de Notting Hill já foi um comunista, ateu, mais velho e mais sábio. Falava como escrevia, escrevia como falava, uma graça. Já foi um lord inglês de olhos profundos e castanhos, que sentia sono ao tomar café e dizia que eu era o que havia de melhor no Brasil.
Bom, e que venha o próximo, daqui a 200 anos, belo e efêmero feito um cometa. Eu sempre lembrarei de todos. Como uma natureza morta, que não possui vida, mas ainda existe.
Bom, e que venha o próximo, daqui a 200 anos, belo e efêmero feito um cometa. Eu sempre lembrarei de todos. Como uma natureza morta, que não possui vida, mas ainda existe.
Eu gosto de me apaixonar, mas não vivo em função disso. Na verdade sou apaixonada pelo que escolhi ser. Pago minhas contas com um emprego legal, moro na cidade que não pára, borro batom vermelho quando como Petit Gateau, vou a uns shows só pra dançar de olhos fechados, acordo meio-dia. Eu sou feliz, acho. E daqui a sei lá, 20 anos, terei um legado.
Verdade, os amigos alertam: "não escolhe muito ou vc vai morrer sozinha". Ok, eu não quero ser uma velhinha de 90 anos encontrada morta, dias depois, um cadáver podre na cadeira de balanço, com mil gatos ao redor. Quero morrer aos 60, linda como a Sophia Loren. Mas também não vou pôr Santo Antônio de ponta cabeça no congelador só pra arrumar marido, colega. Nem sair com qualquer mané só pra não ficar sozinha. É muita humilhação, tenha dó.
Que medo é este que a gente tem de contar os passos com a solidão? De ficar a sós conosco?
Que medo é este que a gente tem de contar os passos com a solidão? De ficar a sós conosco?
A certa altura, a gente já não tem mais estômago para flertes, sabe? A gente despreza até o último dos moicanos. Diz que vai assistir à final do Brasileirão, que vai ver o último capítulo da novela, que foi atropelada por um mamute e o escambal. A gente só diz SIM aos rapazes de Notting Hill. A gente diz sim, até que um deles resolva ficar.
Quando o rapaz chegar, vou estar ocupada. Mesmo assim vamos conversar sobre política, cinema e sexo, como se contássemos anedotas. Faremos sexo como se fôssemos estranhos. Ele vai me chamar de puta, vadia e amor da minha vida. Assim, tudo junto. "Um café e um amor. Quentes, por favor".
Estar solteira não é, necessariamente, estar encalhada. É estar consigo para o que der e vier. É estar loira, ruiva, morena, castanha, irreconhecível à pontualidade dos meros mortais. É estar em hiato profundo, complacente dos próprios desejos, sendo feliz no luto.
"Não se afobe não, que nada é pra já. O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio (...). Milênios e milênios no ar" (Chico Buarque)