quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Meninas de 17, mulheres aos 27



Eu estava pensando em como vim parar aqui. Não, não o Big Bang, extinção dos dinossauros, nada disso. Como cheguei aos 27? Idadezinha mais em-cima-do-muro, tico-tico no fubá e coisa e tal. Vc não tem mais 17, já passou dos 25, mas ainda não chegou aos 30 – dizem – idade das lobas. Idade de ouro, onde tudo acontece e blablabla. Confirma, Balzac?

Tô pagando pra ver.

Não estou em crise, pelo contrário. Aos 27, me vejo muito mais interessante que há uma década atrás, quem diria! Aos 17 vc só se preocupa com o próximo namorado, com a última balada e em passar no vestibular. Deus, como eu pensava em passar no vestibular! Foi assim que viciei em cafeína. E em jornalismo.

Aos 27 a coisa agrava. Vc pensa em casar, ter filhos e um emprego estável - As mulheres normais. Eu não quero casar e tô revendo seriamente o desejo de ter um casal de gêmeos. E não quero um emprego estável, eu quero ser feliz. Aliás, e esse instinto maternal que nos assola aos 27? O que djabos é isso? Um vírus bacteriano herdado dos nossos antepassados durante a Guerra Fria? Credo, a gente não pode ver um guri na rua que já quer ter um.

Aos 27, os grandes se foram. Kurt Cobain, Janis Joplin, Jim Morrison, Jimmy Hendrix, Amy Wine... oops, esta FICA. Eu também.

Aos 17 todo mundo parece interessante. Aos 27, vc que bebeu pouco. Aos 17 vc chora rios Nilos inteiros porque o carinha mais popular do colégio não te dá bola. Aos 27 vc descobre que ele não tem nada demais, mais que isso: vc descobre que ele é um babaca. Aos 27 vc já leu O Inferno de Dante, já assistiu O Sol da Meia Noite, já ouviu todo o CD do Johnny Cash. Daí tooodo o resto te faz bocejar. Aos 27 a gente espera o apocalipse, amigo. A gente espera que Eva - a pária - renasça, só para que ela morra de novo.

Angélica aos 20 e aos 30. Poupança Bamerindus melhorou, hein?

Aos 17 vc sonha em ser a Fátima Bernardes. Aos 27 vc quer mais é que ela se exploda. Aos 17 vc só foi até a Disney. Aos 27 vc planeja conhecer Paris e Grécia. Aos 17 vc perde a virgindade e se acha a mais mulher do mundo, ho ho! Aos 27 vc PENA até achar um homem que te faça se sentir mulher. Aos 17 vc tem espinhas, aos 27 tem pintinhas.

Aos 17 vc briga com sua mãe quase todos os dias. Aos 27 vc chora de saudades dela. Aos 17 vc come no MacDonald’s e sai satisfeita. Aos 27 vc vomita o tal do super máster big lanche feliz e vira vegan ou vive de dieta. Aos 17 seu cabelo é lindo. Aos 27 vc PAGA o cabelereiro para que ele faça seu cabelo ser lindo. Aos 27 vc se acha mais sexy que a Angelina Jolie e a Megan Fox juntas. E aos 27 vc ainda ama algodão doce, parque de diversões e filmes de zumbi. Aos 17 vc nem lembra.

Carol Dieckman, 32 anos. Eu acho ela chata, mas ñ posso negar que é goxtosa.

E Marilyn Monroe, que só foi Marilyn aos 30? Catherine Zeta Jones, linda ainda aos 35. E Zé Mayer que só pega mulher de 30? Mário Prata acha que as mulheres de 30 são morenas. Eu também acho. ‘A mulher de 30 faz sexo como se fosse a primeira vez’, ele diz. Verdade, a gente tá sempre em evolução, em aprendizado.

Vc quer saber? Acho que Dalila tinha 27 anos. E Julieta, aquela-adolescentezinha-dramática, tinha apenas 15. Vejam só como as vilãs são mais goxtosas

Quando eu for balzaca, vou ser gente grande de novo. 

Aliás, alguém achava graça na Sandy, aos 17?

PS: Escrevi esse texto aos 27 anos, mas hoje tenho 29. De lá pra cá, nada mudou. Exceto que, além de Paris e Grécia, quero conhecer mui especialmente, Buenos Aires.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

UM AMOR QUE NÃO EXISTE


Olá queridinhos! Desculpem a ausência, mas estou trabalhando muito. Ao contrário de vcs, vagabundos. Talvez por isso, um texto diferente. Mais sereno, menos agressivo. E sim, mais bobinho, permitam-me ser romântica de vez em quando.
Lembram da namorada do Coringa?

A gente senta na cadeira do metrô e procura o amor da vida. Um cara com os pés no céu, com um personagem no rosto, pinturas pelo corpo. Não acha. A gente vai ao cinema, procura o mocinho do filme, o bang-bang, a mistura exótica de Del Toro e Clark Gable. Dá pra imaginar? Não acha. A gente vai à livraria, procura um daqueles cabras machos, com dentes cerrados, mãos em punho, semblante sério, saídos de uma das crônicas do Xico Sá. Não existe.
Andava distraída pela ponte da Bela Vista, pelas ruas da Augusta. Ouvia os sussurros da Norah Jones e os tons melancólicos da Amy Winehouse. Era uma mulher sensata, centrada. Mas duelava todos os dias com uma menininha boba e mimada. A tal menininha valia mais que mil demônios enfurecidos, mais que centenas de Titãs vaidosos. A mulher vencia sempre, porém.
Estava cansada desses moleques que chegavam sempre de mãos vazias. Sem sonhos, sem vísceras. Nunca a pediam em casamento, tampouco lhe traziam Mentos com uma Coca-Cola super gelada. Não traziam nada além do nada.
Aí aparece um cara que ela nunca imaginou. Que nunca entrou nos sonhos, a quem nunca Sophia Loren emprestaria um suspiro sequer. Mas eis ali o homem da sua vida. Não aparece em um cavalo branco, nada disso. Ele surge em um Fusca Prata 1983, exatamente o ano em que ela nasceu. Ele, aliás, com uns 100 anos a mais. Mais inteligente e mais eloqüente. Fala de futebol e carros com a mesma maestria que fala de política, cinema e cigarros. Torce para um time que ninguém mais torce. E para ele ela podia ser a última das moicanas. 
Pousa-lhe as duas mãos no rosto e a impede de dizer ‘não’ a qualquer pedido. Arrebata-lhe os argumentos, hipnotiza-lhe os olhos de amêndoas. E ele mostra além do oceano, um navio de promessas. E arrasta-lhe para o reino encantado dele. Cheio de aventuras à America Latina, café forte e velocidade da luz.
Ele a devora num roupante de fúria e sensatez. Pede licença para elogiá-la. A boca, os seios e o resto do que ela era. Lambe em cada centímetro, descortina os tabus. Apalpa-lhe nas vértebras e na alma. Ela o conheceu aquele dia e para sempre. E para o jamais. Era o coelhinho de Alice, sempre apressado. E o cachorrinho de Dorothy, sempre perdido. Mas para ela era o homem mais interessante da galáxia. Por ele seria a Amélia, a Ana Bolena, a Juliana Paes e quem mais ele quisesse. Infelizmente, naquele dia, ele só queria ela e ela não servia. Não cabia em seu presente, quiçá em um futuro dourado. 
E não houve dia seguinte. De Bis, só houve aquela caixa de chocolate que ela devorou um minuto depois do nunca mais. Que direito esse cara tinha de tirá-la daquela inércia, daquela monotonia que lhe era a vida, sem dar-lhe tempo suficiente para mudá-la de vez? 

Ela não sabia que era uma despedida com hora e data marcadas. Não se despediu. Não disse a ele que lhe ensairia um streap tease, mesmo achando ridículo. Não disse a ele que lhe contaria piadas de português, de índio e até de nordestino. Não disse a ele que lhe faria um café da manhã com morango, chantilly e sexo. Não disse a ele que sabia fazer arroz, feijão, strogonoff, lasanha e torta alemã. E que isso era o suficiente para sobreviver. Não deu tempo de dizer a ele que o odiaria até a velhice. E que hoje tanto faz.


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