quarta-feira, 22 de setembro de 2010

UM AMOR QUE NÃO EXISTE


Olá queridinhos! Desculpem a ausência, mas estou trabalhando muito. Ao contrário de vcs, vagabundos. Talvez por isso, um texto diferente. Mais sereno, menos agressivo. E sim, mais bobinho, permitam-me ser romântica de vez em quando.
Lembram da namorada do Coringa?

A gente senta na cadeira do metrô e procura o amor da vida. Um cara com os pés no céu, com um personagem no rosto, pinturas pelo corpo. Não acha. A gente vai ao cinema, procura o mocinho do filme, o bang-bang, a mistura exótica de Del Toro e Clark Gable. Dá pra imaginar? Não acha. A gente vai à livraria, procura um daqueles cabras machos, com dentes cerrados, mãos em punho, semblante sério, saídos de uma das crônicas do Xico Sá. Não existe.
Andava distraída pela ponte da Bela Vista, pelas ruas da Augusta. Ouvia os sussurros da Norah Jones e os tons melancólicos da Amy Winehouse. Era uma mulher sensata, centrada. Mas duelava todos os dias com uma menininha boba e mimada. A tal menininha valia mais que mil demônios enfurecidos, mais que centenas de Titãs vaidosos. A mulher vencia sempre, porém.
Estava cansada desses moleques que chegavam sempre de mãos vazias. Sem sonhos, sem vísceras. Nunca a pediam em casamento, tampouco lhe traziam Mentos com uma Coca-Cola super gelada. Não traziam nada além do nada.
Aí aparece um cara que ela nunca imaginou. Que nunca entrou nos sonhos, a quem nunca Sophia Loren emprestaria um suspiro sequer. Mas eis ali o homem da sua vida. Não aparece em um cavalo branco, nada disso. Ele surge em um Fusca Prata 1983, exatamente o ano em que ela nasceu. Ele, aliás, com uns 100 anos a mais. Mais inteligente e mais eloqüente. Fala de futebol e carros com a mesma maestria que fala de política, cinema e cigarros. Torce para um time que ninguém mais torce. E para ele ela podia ser a última das moicanas. 
Pousa-lhe as duas mãos no rosto e a impede de dizer ‘não’ a qualquer pedido. Arrebata-lhe os argumentos, hipnotiza-lhe os olhos de amêndoas. E ele mostra além do oceano, um navio de promessas. E arrasta-lhe para o reino encantado dele. Cheio de aventuras à America Latina, café forte e velocidade da luz.
Ele a devora num roupante de fúria e sensatez. Pede licença para elogiá-la. A boca, os seios e o resto do que ela era. Lambe em cada centímetro, descortina os tabus. Apalpa-lhe nas vértebras e na alma. Ela o conheceu aquele dia e para sempre. E para o jamais. Era o coelhinho de Alice, sempre apressado. E o cachorrinho de Dorothy, sempre perdido. Mas para ela era o homem mais interessante da galáxia. Por ele seria a Amélia, a Ana Bolena, a Juliana Paes e quem mais ele quisesse. Infelizmente, naquele dia, ele só queria ela e ela não servia. Não cabia em seu presente, quiçá em um futuro dourado. 
E não houve dia seguinte. De Bis, só houve aquela caixa de chocolate que ela devorou um minuto depois do nunca mais. Que direito esse cara tinha de tirá-la daquela inércia, daquela monotonia que lhe era a vida, sem dar-lhe tempo suficiente para mudá-la de vez? 

Ela não sabia que era uma despedida com hora e data marcadas. Não se despediu. Não disse a ele que lhe ensairia um streap tease, mesmo achando ridículo. Não disse a ele que lhe contaria piadas de português, de índio e até de nordestino. Não disse a ele que lhe faria um café da manhã com morango, chantilly e sexo. Não disse a ele que sabia fazer arroz, feijão, strogonoff, lasanha e torta alemã. E que isso era o suficiente para sobreviver. Não deu tempo de dizer a ele que o odiaria até a velhice. E que hoje tanto faz.


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5 comentários:

  1. é incrível como vc se divide em aspereza e a pluma. nas doses certas, sem excessos. amei essa tua face romântica que reluta tanto em se mostrar. se eu for destacar as melhores frases, escrevo outro post.
    hahaha!
    mana coruja!
    :*

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  2. Nega...vc é vermelho Almodovar. Cadência,rancor e muita densidade. Oxalá que um 'quase lindo' apareça, chute a porta e te tome pra si.

    Um cheiro.

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  3. Gostei muito dessa outra face sua. Gosto também do seu lago agressivo... faz você diferente das donzelas hipócritas que vimos por aí.

    Acho que, o que torna uma pessoa interessante é, não a consistencia (ser sempre de um mesmo jeito pra todo sempre, amém) mas a capacidade de identificar quando mudar o tom.

    Admito que eu estava esperando esse texto sair de suas mãos há um tempo: homens enganam por que mulheres se permitem enganar; mulheres se permitem enganar na esperança de não serem enganadas.

    Dificil dizer quem tem razão nessa história. Fácil dizer que isso acontece o tempo todo no mundo inteiro.

    E os contos de fadas que contamos, as canções que cantamos e os valores que passamos para nossos filhos nunca mudam...

    Obrigado por dividir esse seu novo jeito de ser... me deu muito no que pensar.

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  4. Muito intenso, metafórico, dramático, no mais profundo dos sentidos. Isso mesmo, odeie esse ordinário, com cara de extraordinário que se fez passar por príncipe. Mas, odiá-lo não é o último caminho - esse é apenas a primeira parte. Melhor vem depois, quando vc acordar e ele não existir ou existir como a caixa vazia de Bis que vc jogou no lixo. Vitória pra nós, filha. Muito orgulho de ter mais uma escritora prontinha, por perto. Te amo.

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  5. Isso me lembrou aquela música que o Lulu Santos e a Marina Lima cantam de vez em quando:'tudo em você é fugaz, tudo você é quem lança... Lança mais e mais. Só vou te contar um segredo, não, nada de mal nos alcança... Pois tendo você meu brinquedo, nada machuca nem cansa.'

    As surpresas vêm assim. Nos arrancam do mundo, nos tiram o chão e depois se vão. Como os punks que vivem rápido pra morrer logo.

    Ou você agradece a oportunidade de ter vivido tais momentos ou se afunda na saudade que sente de sentir...

    'It's better to burn out than to fade away', concordo com Neil Young quando ele prega que é melhor explodir do que apagar-se aos poucos.

    Vida que segue. Na próxima esquina, uma outra surpresa.
    :)

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